Parece haver uma correlação direta entre a saúde e a pobreza nessas áreas mais remotas, visto que geralmente há acesso deficiente a recursos básicos e instalações de banho inadequadas. As mulheres não apenas enfrentam condições adversas à sua saúde, mas também códigos de conduta, superstição e tradições culturais demasiado severas, muitas vezes baseadas em valores patriarcais, em relação às funções corporais naturais, como o ciclo menstrual.
Ignorar as funções corporais naturais devido à falta de condições de higiene adequadas, ignorância ou superstição, causa não apenas desconforto, mas também aumenta o risco de problemas de saúde graves, como infeções do trato urinário, doenças ginecológicas, obstipação crónica e stress mental. A fim de melhorar a situação de mulheres e raparigas nas áreas mais rurais do Nepal, criamos a ONG “Lotus Heart” – (Coração de Lótus), que procura capacitar e educar as mulheres paras questões básicas de Higiene e saúde. Esperamos que a educação destas mulheres não apenas melhore as suas vidas, mas também a vida das pessoas ao seu redor, visto que as mulheres são as principais administradoras dos recursos naturais e, portanto, são poderosas agentes de mudança.
Porquê o Nepal?
O preconceito de género ainda é enorme em muitas culturas, economias e instituições políticas e sociais em todo o mundo. As mulheres continuam a enfrentar níveis inaceitáveis de discriminação e abuso, o que as impede de desempenhar um papel igual na sociedade e na tomada de decisões.
Descobri que nas zonas rurais do Nepal, a posição das mulheres é especialmente precária. O Nepal é um país em desenvolvimento e com muitos problemas ao nível estrutural. Por um lado, as mulheres veem o seu potencial muito limitado devido a valores sociais e patriarcais tradicionais difundidos , a uma falta permanente de educação (a taxa de alfabetização das mulheres é de apenas 40 por cento) e a incapacidade de possuírem os seus próprios rendimentos.
As mulheres geralmente casam-se cedo e ficam privadas do direito de controlar os seus próprios sistemas reprodutivos. A taxa de mortalidade materno infantil nas zonas rurais do Nepal é elevada (170 mortes para cada 100.000 gestações) e o tráfico de mulheres continua a ser parte integrante do tecido social e económico do Nepal. Mulheres são tratadas como um produto ou mercadoria; prática esta que causa uma degradação incalculável e um enorme sofrimento físico e mental.
Para empoderar as mulheres na zona rural do Nepal, é necessária educação. Ensinar às mulheres os conhecimentos e habilitações que precisam para ganhar o seu próprio rendimento não apenas melhora a sua independência, mas também fortalece a sua posição no lar e ambiente sócio cultural. Se a sua maior participação económica levar a um aumento na participação dos rendimentos, as mulheres podem contribuir para a família e, com sucesso, aumentar a sua influência nas decisões familiares.
Um dos problemas mais sérios no Nepal é a falta de instalações de saúde e saneamento necessárias e a falta de conhecimento sobre condições básicas de saúde e higiene. Algumas comunidades não têm casas de banho e usam espaços abertos perto das suas residências para defecar. Esses problemas constituem numa grande ameaça à saúde das pessoas, bem como ao meio ambiente ao redor. E são as mulheres e meninas que são desproporcionalmente afetadas pela falta de acesso a instalações de saneamento, água potável e higiene. Não só não há instalações que as mulheres possam usar para se manterem limpas, mas devido a superstições culturais em relação ao ciclo menstrual, as mulheres e meninas são proibidas de estarem nas suas próprias casas e muitas vezes trancadas em porões, palheiros ou currais quando estão menstruadas por serem consideradas impuras. Nesses lugares, mulheres e meninas não têm acesso aos meios de saneamento necessários… O acesso à água potável e ao saneamento é um direito humano fundamental, mas, como é aqui mencionado, o problema no Nepal não reside apenas na falta de tais instalações, mas também nas crenças patriarcais tradicionais sobre as funções corporais das mulheres.
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O artigo pode ser lido na íntegra na nossa revista #1.