Agir sobre nós e sobre aqueles sobre os quais temos alguma influência; no que concerne os conflitos, devemos agir com mais compaixão e compreensão de que os outros, tais como nós, são iludidos e distraídos, confusos, com perceções erradas sobre as coisas.
Por Luis Jordão
Enquanto seguidor dos ensinamentos de Buda tenho sentido que a minha mente de macaco (sabem, aquela que está sempre a emitir opiniões, a julgar, a qualificar, a saltar para cá e para lá e não nos dá sossego, nos leva à depressão e à euforia…essa mesmo!) não me dá a tranquilidade necessária para evoluir na minha prática. Impede-me muitas vezes de a fazer. O que procuro fazer é tentar enganá-la! Isso dura algum tempo, mas esta mente de macaco é inteligente e logo descobre como fugir da armadilha. Então, vou jogando com ela este jogo de apanhada no qual ora apanho, ora sou apanhado!
Esta é a minha realidade e apenas a minha, não sendo exemplo para ninguém. O facto que é inegável é que aqueles que têm o bom karma de tomar contacto com o Dharma e com verdadeiros Mestres, não só devem aproveitar ao máximo essa oportunidade (o karma é condicionado e, por isso, não dura para sempre, seja bom ou mau) como acabar por constatar ter dentro de si, no âmago da sua consciência e sem conseguir explicar com clareza, um elo com o Dharma que nunca mais é quebrado. E porque será que isso acontece? Buda disse que todos temos as qualidades de um ser iluminado, melhor, todos somos iluminados, mas não conseguimos percecionar em nós essa qualidade por termos obscurecimentos acumulados por milhões de vidas passadas. Buda disse que esses obscurecimentos são condicionados e, por isso, temporários. Ainda assim, em vez de remover os obscurecimentos, acumulamos ainda mais num círculo infindo chamado samsara, todo ele fruto da nossa mente! No entanto, ao estabelecer conexão com o Dharma, a nossa consciência luminosa, primordial, que não sabemos existir de tão distraídos por essa mente macaco, identifica-se de imediato e estabelece essa ligação inquebrável que nos propulsionará um dia, nesta vida ou noutra vida, para a descoberta da budeidade.
Essa conexão gera em nós uma fé incorruptível no Buda, no seu ensinamento e na Sangha. É ou não verdade que sentem isso? Se o sentem é um bom sinal! É um farol que vos orientará nesta vida e em vidas futuras até à iluminação, que virá mais cedo ou mais tarde, dependendo do vosso empenho e dos obscurecimentos acumulados. Pessoalmente, confesso, já fui mais empenhado. A vida, o samsara e a mente de macaco, colocam muitas armadilhas pelo caminho, mostram-me outros interesses terrenos, a responsabilidade para com a família, a atividade profissional, os prazeres sensoriais. Só de falar nisto, torna-se fácil perceber a dificuldade de alguém se desviar destes deveres terrenos. Mas, tranquilizem-se, não temos de abandonar os nossos deveres ou responsabilidades, êxitos e fracassos, privações e riqueza, elação e infâmia, perdas e ganhos. Temos é de os trazer para a nossa prática, e usá-los como combustível para a evolução.
Em primeiro lugar, temos de tomar consciência de que todos os nossos hábitos e tendências habituais, as nossas emoções e ações do corpo, da fala e da mente, estão condicionadas e, por isso, geram sofrimento. Mesmo os momentos de felicidade e de amor que sentimos geram sofrimento para nós e para os outros. Quando percecionamos que alguma experiência nos fez sentir felicidade, de imediato nos apegamos a essa emoção e a queremos perpetuar ou repetir. Quando sentimos amor, de imediato nos apegamos ao objeto do nosso amor e ficamos com receio de o perder. O mesmo se passa com os ganhos. Da mesma forma, quando perdemos ou temos de lidar com alguém que nos fez mal ou prejudicou, ou somos privados de estar com alguém que amamos, nos apegamos a essa emoção e sentimos a outra face do apego: a repulsa.
Podes continuar a ler este artigo na nossa revista #1 de Budismo, uma resposta ao sofrimento