Assim ouvi dizer que, uma vez, o Buda estava hospedado em Sāvatthī em Jetavana, no Parque Anāthapiṇḍika.
Nessa altura havia um monge chamado Thera, que vivia sozinho, e que gostava da sua vida solitária. A certa altura alguns monges dirigiram-se a Buda, prestaram homenagem aos seus pés, sentaram-se a um lado e disseram ao Buda: “Honrado pelo mundo! Este monge Thera elogia a vida solitária, a vaguear sozinho, sentado sozinho”. Buda disse aos monges: “Convoca este monge Thera”. Depois um monge foi ao lugar onde Thera estava e disse-lhe: “O Honrado pelo mundo chama-te!’. Tendo recebido a convocação, o monge Thera dirigiu-se a Buda, prestou homenagem aos seus pés, e ficou de um lado. O Buda disse a Thera: “É verdade que vives sozinho e aprecias estar sentado sozinho para praticar o Dhamma?” Thera respondeu ao
Buda: “É verdade, Honrado pelo mundo”. O Buda disse: “Como é que gostas de viver sozinho, como é que o elogias?” E Thera disse: “Honrado pelo mundo! Sozinho eu entro nas aldeias [para a esmola], sozinho deixo-os, sozinho sento-me [em meditação]”.
O Buda disse-lhe: “Há uma forma de viver sozinho, que é superior à tua. O que é este caminho? [Aquele em quem o resíduo do] desejo passado secou, o desejo futuro não surgirá, e o desejo presente não cria [formações kármicas] – [tal pessoa] chama-se brāhmaṇa. Sem ‘eu’ e ‘meu’, tendo cortado através dos grilhões da dúvida, mantendo grande distância do mundo sensual, ele extinguiu as suas impurezas”.
Naquele momento o Buda falou um verso:
Todos os mundos / Eu conheço-os a todos.
Deixando de lado tudo / acabando com os grilhões do apego,
este é o ensinamento vitorioso / chamado viver sozinho.
Quando o Buda terminou de falar, os monges, tendo ouvido o que ele tinha dito, ficaram felizes e lembraram-se disso.
Fonte: Studies in Agama Literature, Marcus Bingenheimer